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5 de fevereiro de 2011

Mercearia VII - O segredo da cidade

Existe um segredo em Lisboa. Todos os que por cá vivem conhecem-no implicitamente; os que cá não vivem, também o conhecem, até porque muitas vezes é a primeira coisa que a cidade dá a conhecer. "Sou uma cidade com colinas".

É certo que agora mereço ouvir um sonoro "que novidade!". Mas o que significa na verdade ser uma cidade com colinas?

Significa que existem várias porções da cidade, que em muito poucos metros apresentam morfologias muito distintas. E diferentes morfologias, criam ruas únicas, atípicas e até contrastantes (mesmo quando distam poucos metros). O facto de ser uma cidade com colinas significa ainda que é muito fácil passarmos sempre pelos mesmos caminhos sem fazer grandes experiências (a lei do menor esforço entra compreensivelmente em acção). Se existem 3 caminhos e dois deles desafiam o limiar da aderência das solas de borracha, nem falemos dos saltos, e com uma calçada mais polida do que um ringue de gelo, é óbvio que em 99% das vezes vamos seguir pelo terceiro caminho. Mas é justamente essa característica que faz com que seja possível, numa cidade de modestas dimensões, existir sempre uma surpresa, um metro de rua por onde não andámos, uma pedra da calçada onde nunca tropeçámos, um portão, um ferro ou um prédio que nos fascina e apaixona.

Esta mercearia pertence a uma rua que para mim encarna perfeitamente este exemplo. No seu interior encontrei três pessoas: o dono, com a sua bata azul, a dona e um cliente habitual. Todos se dispuseram a ser fotografados, contaram histórias e até sugeriram outros locais de interesse. É caso para dizer que nesta rua a simpatia é como as cebolas. Está à vista de todos!

Rua Capitão Renato Baptista 29C




3 comentários:

  1. Gostei de fotografares o chão das casas. Padrões de outros, cores gastas pelas solas.

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  2. Um chão igual ao da minha cozinha! Parabéns pelo projecto, estou a gostar muito.

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  3. Já me esquecia roubei-te estas fotos para daqui a uns dias as colocar no meu blog... com a referência ao autor claro.

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